terça-feira, 29 de julho de 2008

Balança o Chão da Barra


Esta turma balançava, literalmente, o chão da Barra de Maxaranguape, como na música de Dodô e Osmar. Meu amor, que ficou, é que balança, meu amor, o chão da Barra.
Pessoas que reconheço na foto: Chico, João Batata, Marcelo e o Mago Uerton (de costas).


Segundo Wanderley

Esta é a Rua Segundo Wanderley, no Barro Vermelho, em Natal-RN, local onde moro há mais de 35 anos. Esta foto foi batida em 1988, portanto, há 20 anos.
Detalhes: a rua ainda não era asfaltada, o horário em que foi feita foi na hora do almoço, pois vemos a mercearia de Belkiss ainda fechada. Seu Raimundo Góes ainda morava em frente, pois o seu famoso fusquinha estava na garagem e, para finalizar, a rua ainda era no sentido Jaguarari - Olinto Meira.


terça-feira, 22 de julho de 2008

domingo, 20 de julho de 2008

Nova Entrevista de Lívio Oliveira

ENTREVISTA DE MARIA LÚCIA DAL FARRA A LÍVIO OLIVEIRA


L.O. Que espaço a poesia e a literatura ocupam em sua vida?

M.L.D.F. São ambas a minha própria vida. De um lado porque escrevo poesia, de outro porque ensino literatura.

L.O.. O labor do(a) poeta necessita de que alimento? E quando falta....?

M.L.D.F. Leitura cotidiana dos pares e abertura sensível para a experiência do outro e da vida. Nunca falta, se há alento e disposição.

L.O. A solidão anima o(a) poeta? Como estar só diante de um mundo tão frenético? Como "ouvir o silêncio" no entorno?

M.L.D.F. A solidão é fundamento da existência. O bulício do mundo também. O aturdimento ajuda a ouvir o que não se percebe no silêncio.

L.O. Como definir a importância do ritmo em seus versos? Parece que você tem uma íntima relação com a música?!

M.L.D.F. Se a poesia te entra pelo ouvido, ela te toca a mente e te possui. A música (a melodia e o ritmo) abre uma senda de ramificações para o encantatório, região própria da palavra emprenhada, da palavra poética.
Creio ter um ouvido privilegiado à custa dos meus familiares. Cresci, desde sempre, escutando meu pai tocar e cantar com o Angelino de Oliveira, o autor de Tristeza do Jeca, que é de Botucatu, minha terra natal. Além do violão, meu pai tocava a sanfona semitonada italiana de muitos baixos, que passou de geração em geração até chegar às suas mãos. Nela executava ópera e tangos e tarantelas, e aprendi a cantar com ele em dueto, desde pequenininha. Estudei piano pela vida afora e, ao mesmo tempo, canto lírico. Em 2002, recolhi as canções inéditas do Angelino (que meu pai já resgatara em volume) e acabei por gravá-las, acompanhada pelo meu primo Zebba Dal Farra, num cd duplo que se encontra fora de mercado.
Me desviei da pergunta, afinal, e encomprido a resposta. Creio que cada poema pede um ritmo, uma melodia íntima que estabelece consonâncias e dissonâncias com meus pares (quando digo isso refiro-me a um extenso lastro de experiência de leituras) - os afetados por aquela escrita. Busco a música que aquela matéria me pede e que dialoga (de muitas maneiras) com outra obra que tenha tratado daquela questão ou por ela resvalado. Para mim, o poema é o lugar da mais profunda comunidade, muito embora seja solidão pura.

L.O. Sua poesia é permeada, em muitos momentos, por lembranças, memórias, inclusive de ancestrais familiares... O que a leva a se utilizar de tal matéria?

M.L.D.F. Bem, como descendente de imigrantes italianos, de um lado, e de andaluz casado com avó nativa índia, de outro, sempre procurei desbastar, em mim, a identidade que explicasse essa brasileirice. E precisava encontrar uma linguagem condizente com tal urgência que, sendo biográfica, era antes de mais nada poética, a de registrar, a meu modo, uma dicção de mulher brasileira fruto dessa mistureba – se é possível conseguir isso... Mas tentei, e foi assim que nasceu toda uma seção do Livro de auras, a “Lição de casa”, o que era um acerto de contas com a minha história pessoal ao mesmo tempo que um desafio enquanto poesia de comunicação numa época de perda da aura.

L.O. Sem a intenção de tocar exatamente na questão da existência - ou não - de uma literatura/poesia feminina, indago: Sobre que conteúdo da mulher você mais deseja se expressar e que mais a move na produção de sua obra?

M.L.D.F. Sempre projetei escrever uma poesia que percebesse o mundo por um imaginário muito específico, o culturalmente feminino, já que sou feita desse barro – o que não impede um homem de fazer o mesmo, claro está. E nunca se tratou, para mim, de produzir apenas um olhar, mas uma fala, uma linguagem, e, na melhor das hipóteses, uma poética. Me interessa explorar essa linguagem até as últimas conseqüências, saber até onde posso levá-la por esse viés. Tratando de uma obra de arte ou de quaisquer trivialidades, sempre busco descerrar esse objeto por meio da digital feminina.
Mas isso não quer dizer que a minha poesia dialogue apenas com poetisas, com mulheres. Posso assegurar que procuro ter direito de cidadania dentro de uma tradição poética em língua portuguesa, é verdade, que acata para si as experiências de outras literaturas de outras línguas e de quaisquer gêneros, pelo menos até onde posso alcançar.

L.O. Como se estabelece a convivência e a rotina literária e intelectual entre você e seu marido (escritor Francisco Dantas)?

M.L.D.F. Com a naturalidade de dois cúmplices amigos e amantes.

L.O. Quais os móveis remoto e imediato para o fazer literário?

M.L.D.F. Sabe que nunca me perguntei a respeito? Parece que desde que me entendo por gente sou assim, escrevo, canto, toco, me dedico profundamente às artes, adoro o teatro, o cinema, o ballet, a ópera, sem esquecer dos bichos. Não sei se porque sou filha de uma família absolutamente sensível à música e à literatura e fui criada nesse ambiente, ser poetisa e artista sempre foi da minha natureza mais profunda ou periférica. Desde criança que os meus e os da minha terra me têm assim e me vêem desse modo. E nunca fui outra coisa. Nunca fui boa em matemática ou em física, muito embora me hipnotizem essas teorias a respeito do universo e das forças que desconhecemos, o que me levou a estudar esoterismo, por exemplo, e isso ainda na década de setenta, e a me descobrir um pouco bruxa – daí meus gatos?! De resto, escrever sempre foi para mim uma urgência, uma maneira de eu me reconhecer criticamente, de me espelhar naquilo que faço, e de proclamar, a cada vez para mim mesma, uma nova existência. O que independe de estar ou não inserida nos trâmites pragmáticos que regem hoje a literatura, muito embora eu procure entrar em interlocução com estes na medida em que produzo declaradamente uma obra que se quer resistente ao consumo, arcando, pois, com toda a sorte de conseqüências – mercadológicas e (graças a Deus!) literárias...

L.O. Há uma delicada sensualidade em alguns de seus poemas. Qual o lugar do erotismo e da sexualidade em sua poesia?

M.L.D.F. Nem tão delicada assim em alguns deles, creio. Há, às vezes, um transbordo sensual, que pode vir tanto do motivo erótico do poema quanto da labuta amorosa entre as palavras no esforço de criar algo – o Breton não dizia que as palavras fazem amor entre si? Lembro-me de que lia, num encontro de escritores, uns poemas para uma ampla platéia, e que senti, com clareza, ir subindo a temperatura emocional dos ouvintes – e a minha, claro está. O poema produzia um não sei quê de muito envolvente que contaminava as pessoas, e pela primeira vez me dei conta de me comunicava com meus interlocutores reais de maneira plena. E experimentei essa doçura, esse mistério gozoso. E estou sempre em busca desse arrepio, desse frenesi que me permita entrar em entendimento profundo com o outro. As palavras permitem isso!

L.O. Que matérias podem ser objeto de um poema?

M.L.D.F. Digo com Herberto Helder que tudo é mesa para o poema.

L.O. As universidades ainda têm espaço para a criatividade e a arte? Não é a técnica, o método, e a extrema "racionalidade" que estão exageradamente predominando na produção acadêmica atual?

M.L.D.F. Essa pragmática governamental de determinar prazos para a preparação e defesa de mestrado e de doutorado, iguais e exíguos prazos para disciplinas de natureza tão diferenciada, traçando indiscriminadamente os mesmos critérios para matérias e esforços diversos, o que é de todo questionável – tem arrasado com a possível excelência da produção intelectual nas universidades. Tem interessado a tais órgãos fomentadores muito mais o número de produções do que a qualidade, de maneira que os nossos acadêmicos se fizeram aplicados de todo em locupletar o próprio currículo do que em produzir ensaios ou obras que se querem acima do comum - e isso é mau.
Todavia (e eu ando muito por este Brasil afora como partícipe de bancas de tese e de concursos, e mesmo como assessora do CNPq), tenho testemunhado casos em extremo meritórios e, sobretudo, da parte de universidades humildes do Nordeste, que procuram crescer a partir de uma mui séria produção intelectual. Fiquei muito impressionada ultimamente, para citar um belo exemplo local, com o nível das letras na Universidade Federal do Piauí.

L.O. O que seria, no seu entender, um projeto literário que guarda "consistência"?

M.L.D.F. Bem, se é “projeto”, significa que ele se espraia para diante, que ele se futura, que ele se precipita para uma realização, que ele se adianta pronto a assimilar as intempéries do seu próprio impulso, reatualizando continuamente o previsto. Isso, por si só, já lhe confere uma consistência, se entendo bem a pergunta que me faz. Agora, se além de tudo, ele se enraíza dentro da tradição literária, ele troca figurinhas com os seus pares contemporâneos ou remotos, enfim, se ele procura sustentação própria, contestando a tradição ou aderindo criticamente a ela – penso que ele obterá a tal da “consistência”.

L.O. A literatura (a boa literatura) pode ser limitada por aspectos geográficos e/ou econômicos? Como se mexer, com o menor grau de risco, no atual mercado editorial brasileiro?

M.L.D.F. Claro que sim! Os aspectos geográficos e econômicos são fundamentos com os quais lida internamente a literatura, de uma ou de outra maneira. Ou ela os absorve nas suas próprias leis de produção ou se rende a eles e diz adeus às ilusões – não é à toa que Balzac, nos primórdios do processo de mercantilização desbragada da literatura, já pensava nisso.
Agora, nessa empresa, não dá pra mexer com o menor grau de risco. Arrisca-se sempre tudo quando se bole com isso. Mas a literatura não é, também, uma experiência de limites?

L.O. O que (que obras, movimentos e/ou autores) o Nordeste tem hoje a oferecer à literatura nacional?

M.L.D.F. A pergunta é engraçada porque pressupõe que o Nordeste não seja literatura nacional. E sei de onde vem isso: o anátema que paira sobre os regionalismos nos fizeram crer que só algumas das coisas que produzimos aqui é que podem pertencer à literatura nacional.

L.O. A cena cultural e literária brasileira vive um bom momento?

M.L.D.F. Você diz bem: você diz “cena”, o que inclui certamente todo mercado cultural que compreende a literatura brasileira, e, portanto, lobbies e outros tipos de investimentos ou especulações mercadológicas. Porque ouço sempre os editores dizerem que esse mundo está se acabando, que a internete vai engolir o livro e blablablá, quando vejo editoras crescerem desmesuradamente e outras, é verdade, mudarem por inteiro os seus rumos para sobreviverem. Também vejo como entram nesse mercado brasileiro outras flâmulas, outros selos internacionais – pra bem? pra mal? O fato é que, segundo a minha própria experiência, nunca vi tanto livro no mercado, nas livrarias, livros que versam sobre quase tudo no mundo, inclusive sobre as próprias posições do mercado editorial. Não que sejam acessíveis os livros – estão a cada dia mais caros, muito diverso do que acontece, por exemplo, aqui bem perto de nós, na Argentina – e não por causa da diferença de cotação da moeda. Agora, o problema é que não sinto quase interesse pelo que se publica normalmente com essa fúria, pois que a qualidade, do meu ponto de vista, me parece suspeita – ou então não entendo mais nada de literatura. Tenho participado pelo segundo ano, como júri intermediário do Telecom Portugal, e fico a cada vez mais impressionada com a quantidade de livros inscritos para o prêmio – e aqueles que considero superiores raramente se encontram na lista final.

L.O. A cultura teve avanços com o Ministro Gilberto Gil? Você acredita na essencialidade, na importância do Estado para a produção e desenvolvimento da cultura de um povo? Ainda há necessidade de mecenato no nosso país?

M.L.D.F. Não sei dizer. Mas penso que a cultura não avança apenas graças à presença ou não de subsídios – acho que, por meio destes, ela se mostra mais, ela aparece e se torna mais transparente: tanto para o seu melhor quanto para o seu pior. Há muita manifestação cultural de péssima qualidade que eu vim a saber da existência através dos meios de comunicação oficiais ou graças ao presente “mecenato”, como você diz.
Agora, pra mim, quanto mais o Estado se mantiver afastado das produções culturais, melhor é. Porque não há jeito: sua presença na arte é sempre interferência, e acaba por fazer pender a produção cultural pro lado donde sopra o vento, e o mecenato vira ingerência. Já assisti a muita “conversão” cultural porque, não há como negar, os fins passam a ser outros, de caráter puramente pragmático e político, e bem no mau sentido.
Acho que devemos, sim, exigir do Estado, sempre e permanentemente, aquilo que nos é de direito!

L.O. Que importância você vê nas feiras, festas, bienais literárias? Acrescentam algo à formação ou confirmação do público leitor?

M.L.D.F. Quando a gente fala de feiras, festas, bienais literárias, fala de cultura de massa, e o conceito é outro – a mediania. Eu mesma, quando estive aí da última vez, fui surpreendida pelo interesse do público em geral, que supunha mais universitário e especializado, tal como o tinha encontrado antes, também aí, num evento muito menos concorrido e com muito menos estrelas. Só no momento em que me vi no palco (e uso de propósito essa palavra porque era disso que se tratava), compreendi que deveria ter feito outra atuação, muito mais voltada para memória e para os depoimentos pessoais, que propriamente para aquilo que eu havia me preparado, levando paper e tudo o mais. Acabei parecendo arrogante quando estava só de papel trocado. Tinha de mudar de faixa e de sintonia, e acabei ficando presa no modelito que tinha trazido e que pareceu aos meus pares de mesa um... espartilho. Mas, para a próxima me emendo, porque também sei fazer o que for necessário para entrar em entendimento com esse tipo específico de público, pois que conheço bem a importância de a gente chamar a atenção das pessoas para a cultura e, ainda mais, para a literatura. E, nesse caso, respondendo à sua pergunta, creio que eventos desse tipo ajudam a formar público leitor.

L.O. Que referências intelectuais e literárias lhe são mais caras? Quem merece ser lido ou relido no Brasil e no mundo?

M.L.D.F. Rilke, Lorca, Jorge de Lima, Francis Ponge, Graciliano, Walter Benjamin, Auerbach, Candido, Bosi, Bachelard, Carlos de Oliveira, Murilo, Cabral, Rimbaud, Herberto Helder, Fiama Hasse Paes Brandão, Robert Dierckx, Agustina Bessa-Luís, Clarice, Cecília – e esta ordenação é puramente aleatória, sendo que deploro muito não apreciar ainda aqueles autores que não cheguei a conhecer, mas que me aparecerão a qualquer momento, o que significa que esta lista permanece em aberto até o fim dos tempos.
Descobri há pouco talentosas romancistas e contistas, a brasileira Adriana Lunardi e a portuguesa Inês Pedrosa, esta última também extraordinária cronista. A Gilka Machado é outra que precisa ser relida hoje em dia, mas parece que os herdeiros não deixam.
Há um rapaz de peso, que admiro muito, o Marcos Siscar, que foi meu aluno na Unicamp, e que encontrei agora assim, poeta completo. Há outro grande poeta que precisa ser lido e relido, escritor extraordinário - Rubens Rodrigues Torres Filho.
Prezo muitíssimo o poeta Luís Carlos Guimarães e o escritor querido Oswaldo Lamartine, ambos saudosos e do meu coração – que merecem leituras, merecem estudos, merecem publicações. Também um outro escritor pouco conhecido, o mineiro-goiano Carmo Bernardes, muito apreciado por Francisco, precisa fazer parte do regime de leituras desta língua portuguesa. Faltam muitos mais, dos quais hei de me lembrar quando der por encerrada a entrevista – e já então irremediavelmente ausentes desta lista, mas não da minha atenção.

L.O. Em que a aridez e o calor do Nordeste a motivaram a abandonar São Paulo por esta terra?

M.L.D.F. Eu vim pra cá hipnotizada pela paixão. E isso não significa bem uma escolha, mas um fado – com letra e música... Depois que voltei a mim, que a paixão se transformou definitivamente em amor, aí, sim, me dei conta do que estava em volta, e passei para a fase da decisão de viver aqui. Ainda não sei se entendo alguma coisa do Nordeste, porque o repertório é imenso, e a cada minuto me extasio com outra e outra descoberta. E sou muito agradecida a este lugar, tanto quanto a sua terra enrijecida e devastada e nua o é à chuva que lhe descobre brotos e entranhas novas num repente, mal sente o toque da água a banhá-la. Muitas vezes me surpreendo assim aqui, em estado de seiva pulsante, de verdes buliçosos.

L.O. Você revelaria algum código secreto do escritor? Existem?
O único código é ser fiel a si mesmo.

L.O. Sobre que projetos tem se debruçado (na literatura e na vida)?

M.L.D.F. Ultimo um livro de poemas chamado Palimpsestos. Tenho no prelo, em Portugal, pela Quasi Editora, a edição das cartas de amor de Florbela Espanca, inéditas, provavelmente pronta para o final deste ano. Trabalho num projeto sobre o imaginário feminino em língua portuguesa, que relê vários escritores, e isso vai se transformar num livro. Tenho também vontade de reunir todos os meus escritos sobre a Florbela num volume, o que está no horizonte. E penso rever o meu trabalho Esoterismo e poesia da modernidade, deixado há séculos na gaveta, para publicação. Saiu também agora neste mês um livrinho meu sobre a Florbela pela 7 Letras do Rio.
Por outro lado, lido agora com a questão de ser letrista de canções: estou preparando a letra em português para três canções de um extraordinário compositor americano, que é professor de jazz em Berkeley, o Ted Moore. Até o final deste ano sai um cd da Joésia Ramos, a nossa médica-musicista sergipana, com músicas de sua lavra (há apenas uma minha ali), e com letras minhas, na maioria (Francisco também coopera com uma), que registra a trilha sonora da peça Os desvalidos, baseada no romance de Francisco, e posta em cena pelo grupo “Emboaça” daqui do Sergipe.
Estou feliz porque começo a participar mais ativamente de encontros e congressos enquanto poetisa e não mais como crítica literária, o que já é um acontecido. Vou para o México e para a Argentina dentro em breve para isso, e fiquei muito feliz em me ler em castelhano na recente Punto Seguido, em tradução de Claudia Bedoya, e na apresentação de Claudio Willer. Outra coisa boa foi participar da coletânea-catatau da Unicef, publicada no ano passado, Las palavras pueden: los escritores y la infancia. Como não sou mediática e tampouco tenho agente literário e como sou como Francisco, desses seres solitários sem nenhuma relação com o marketing, penso que tais chamadas e publicações são de fato uma dádiva - assim como esta entrevista que você me destinou. E lhe sou muito grata por isso, Lívio.

O América sobe

Finalmente, o América-RN conseguiu sair da lanterna e ocupar, neste momento do campeonato, a décima-sétima colocação. Falta pouco para sairmos da zona de rebaixamento. Força, Mecão!!!!!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A DOR E A DELÍCIA DE SER DA PROVÍNCIA

A DOR E A DELÍCIA DE SER DA PROVÍNCIA
(Lívio Oliveira)
Nasci nesta cidade iluminada do Natal, no ano já distante de 1969; portanto, já havia ficado para trás “o ano que não terminou”, de que todos tanto se lembram hoje. Para mim, 1968 (um ano que possui um dono chamado Zuenir) estava já bem terminadinho e o meu ano, um 69 bem feitinho – tenho mesmo que me resignar–, não seria, assim, tão lembrado. Apesar disso, foi nele em que a missão Apollo 11 pousou na superfície lunar, em um local que sei-lá-quem chamou de “Sea of Tranquility” (Mar da Tranqüilidade). Os loucos astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornavam-se os primeiros humanos (Marcelus Bob ainda não havia inserido seus “humanóides” no quadro) a caminharem no queijo suíço do satélite natural da Terra: “Um pequeno passo para um homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”!
O curioso é que o meu primeiro choro, na Policlínica do Alecrim, deu-se durante um outro acontecimento, no mínimo interessante, no mínimo tão excitante: era o segundo dia do mítico festival pacífico e amoroso de Woodstock, que reunia mais de 400 mil sonhadores numa fazenda de 103 hectares em Bethel, Nova York, EUA. Portanto, aquele povo alucinado estava longe, bem longe desta amável província para a qual eu abria, desavisadamente, os olhinhos. Minha lívida mãe, assim, podia me entregar ao mundo com mais tranqüilidade (só não sei se por aqui já havia carros com as portas abertas e os sons de megawatts ligados e se ela teve que suportar, no leito do meu nascimento, o som estridente de alguma banda de forró-brega ou dupla sertaneja ou dança do créu ou qualquer dessas “belezas”!).
Joan Baez (como parecia, meu Deus, com uma minha vizinha belíssima, irmã mais velha do meu primeiro amor de infância, nos anos que viriam!) concluía, com sua voz de canário, no amanhecer do dia 16 de agosto, um set de cinco canções, cantando, por derradeiro, "We Shall Overcome". Naquele sábado ainda se apresentariam os principais artistas psicodélicos e os roqueiros do festival, dentre eles Santana, Janis Joplin, The Who, Creedence Clearwater Revival, Jefferson Airplane e outros malucos. Acredito, hoje, que os meus berros devem ter sido bem mais altos dos que os de Janis, uma de minhas cantoras preferidas. Afinal, não sabia e, talvez ainda não esteja hoje muito decidido, se queria mesmo vir para o lado de cá.
Devo frisar que muitos desses e outros heróis que tive (é verdade que o Woodstock me trouxe os primeiros heróis, já quando eu nascia!) morreram, mesmo, de overdose. Dentre eles, o próprio autor da frase imitada, Cazuza, ícone dos 80, cantor e poeta desaparecido por excesso de sonhos e desejos [lembro-me de ter faltado a uma aula daqueles dias, no católico Colégio das Neves, para ver um show do então vocalista do Barão Vermelho no saudoso (?) Palácio dos Esportes].
Viriam, no decorrer dos meus quase quarenta anos, diversos ídolos, diversas ilusões, todas e todos mortos, em mim ou no mundo. Viria Elvis, “The Pelvis”, quem eu quis ser um dia, imitando-o aos dez anos (Elvis havia morrido no dia do meu oitavo aniversário). Viria Renato Russo. Viria Elis, viriam todos para mim, para o meu conhecimento. Viriam até Mussum e Zacarias, já que a vida precisava de um sorriso e, nela, já se instalavam muitos outros palhaços.
Jamais me pacifiquei e, por isso, depois, descobri Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, Fernando Sabino, José Lins do Rego, Lorca, Manuel Bandeira, Proust, Walt Whitman...Descobri Piaf, Montand, Aznavour. Também me apercebi da existência anterior sobre a terra de Billie, Ella, Monk, Mingus e Miles; de Fellini, Buñuel, Bergman, Brando e Brigitte. Perdi-me, de vez, entre os sonhos que jamais me deixariam quieto e o tempo começava a passar rápido, rápido. Eu teria que correr, sempre, como Lola, ou um Forrest Gump desesperado! Deixava de ter ídolos e meus únicos mitos se tornariam duas cidades: Natal (que eu sempre conheci muito, muito bem!) e Paris (que ainda não conheço!).
Lembro-me de muitas coisas e experiências e – óbvio – a maior parte daquelas mais consistentes e inconseqüentes se passou na infância e na adolescência, quando brincava no sadomasoquista “garrafão” ou de “31, Alerta!” e guerra de mamona nas ruas do Barro Vermelho; quando pulava o muro do quintal de minha tia para furtar frutas; quando quase me dei mal várias vezes; quando me iniciei em quase tudo; quando caí da mangueira ou quando fui atropelado ou quando...quase a história se encerrava! Hoje, ando por aqui, meio desiludido com muita coisa, muita gente; ainda iludido com tantas outras.
Com o sol na cabeça (belo, Lô!), sou sabedor (sou quase um profeta, um clarividente!) de, por exemplo, quem estará à frente de nossas instituições culturais no ano que entra e no outro e no outro. Duvida? Além disso, sei já de outras dez cositas: 1. A nossa política é como as outras; 2. Nossas praias são mais belas que todas e nossas mulheres não tanto quanto as de Buenos Aires; 3. A refinaria nunca vem; 4. As medidas pluviométricas são as principais notícias dos jornais; 5. Nossa água está mais suja e alguém lava a égua; 6. Temos muitos carros nas ruas; 7. Temos muitas ruas sem árvores; 8. Temos poucos becos e muita lama; 9. Somos incultos, mas não parecemos (as únicas exceções à vida inculta desta vila poderiam ser Luís Cascudo e Luís Guimarães e Zila e Sanderson e Patriota, o Nelson germanista, e João Batista e Zé do Beco e outros poucos? Sim, e outros, mas mui poucos); 10. Vivemos sob um refinado, digo, digo assim, um reinado de poucas famílias, em folias e dutos por onde vazam nossos sonhos, escorrendo um óleo negro, um leite azedado, e gafanhotos se lambuzam no mel.
Aqui, amigos, irmãos, aqui é o lugar onde um cínico não vive num barril, mas numa academia...de musculação! Aqui, não há muitos santos, nem muitos Pedros ou Paulos, mas há tantos Judas! Mas, não pense, você que me lê, que eu acredito em tudo isso, que eu seja um poço de pessimismo ou amargor! Na verdade, mesmo, mesmo, eu me esforço é para desacreditar (sou, em verdade, um otimista como se pode notar!), pois aí verei que vivo num paraíso, tão cheio de querubins, de anjos cantores e cantadores cristalinos, de artistas, intelectuais, políticos sérios, e...poetas vaticinadores de um mundo melhor em que, às vezes, poderei deitar e conseguirei dormir!

Entrevista com Carlos Secchin

ENTREVISTA/ANTONIO CARLOS SECCHIN
POR LÍVIO OLIVEIRA
POETA


O poeta potiguar Lívio Oliveira entrevista o escritor Antonio Carlos Secchin, doutor em Letras pela UFRJ, integrante da ABL, detentor de 15 prêmios nacionais e autor de treze livros, como “Os melhores poemas de João Cabral de Melo Neto”, “ Poesia completa de Cecília Meireles” (edição do centenário), “Poesia e desordem”, “A ilha”, “Ária de estação”, “Elementos”, “Diga-se de passagem”, entre outros. Na entrevista, Secchin fala sobre literatura, internet, ABL, Ministério da Cultura, e de autores brasileiros que estão hoje completamente esquecidos.


A internet colabora para o desvio, a subtração, de leitores ou dos leitores potenciais?
Ao contrário, ela fomenta a leitura e traz, potencialmente, toda a literatura do mundo para o monitor do usuário.

Concebe-se uma "literatura eletrônica"? Que importância possuem os blogs e os sites com temas literários ou culturais?
Ainda assim, creio que nada substitui o suporte "livro". Não tenho tempo (nem muita paciência) para ficar percorrendo blogs. Diante da profusão, é necessário ser extremamente seletivo.

Que momento vive a poesia brasileira, hoje? Há novidades consistentes?
Vai bem, e ignorada, como quase sempre.

A Academia Brasileira de Letras tem cumprido o seu papel cultural?
Sim, com uma renovada e ampla gama de atividades: seminários, cinemateca, concertos, publicações. Basta conferir: www.academia.org.br

Como você vê o acordo ortográfico sobre a língua portuguesa?
Sou favorável, mas não vejo "a pátria em perigo" nessa questão.

Traduzir é mesmo trair?
Sim, mas há traições maravilhosas.

O que nos traz o mercado editorial atualmente? O livro é um produto que tem futuro no Brasil?
A quantidade avassaladora de títulos publicados/vendidos nos traz alento. Mas quando percebemos que a grande maioria é de didáticos...

Como vê a atuação do Ministro Gilberto Gil à frente do MinC? A atual política cultural é eficaz?
Gil é muito articulado e competente. Não creio, porém, que tenha priorizado a literatura.

Que lembranças você possui do ano de 68 e que influências ainda tem?
Poucas lembranças. Não vivi os momentos de agitação universitária porque ainda cursava o ensino médio.

João Cabral tem sido lembrado e lido como merece? Quem merece ser lembrado no Brasil?
Sim,” Morte e vida Severina” talvez seja o maior sucesso editorial de toda a poesia brasileira. Não, porque os leitores parece contentarem-se apenas com essa obra, que revela apenas um aspecto de Cabral. A lista dos injustamente esquecidos seria longa, talvez tão extensa quanto a dos injustamente celebrados.

O que deve fazer um jovem que busca ser escritor?
Ler o máximo, escrever o mínimo.

Citaria dez autores essenciais?
Essenciais, não diria, mas importantes: Marcelo Gama, Ernâni Rosas, Carvalho Júnior, Júlia Cortines, Eduardo Guimarães, B.Lopes, Luiz Aranha, Maranhão Sobrinho, Luiz Delfino, Alberto Ramos. Todos mortos. E esquecidos.



Quem é Lívio Oliveira?

Lívio Oliveira é meu irmão mais novo, de uma prole de cinco. Procurador Federal, atuando no Rio Grande do Norte, atuou durante muito tempo na UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Escritor, poeta, compositor musical, entre outras paixões.

Brevemente publicarei mais detalhes sobre carreira do Procurador Poeta ou será Poeta Procurador Lívio Oliveira.

Entrevista com Marcia Tiburi - Por Lívio Oliveira

Entrevista da filósofa, escritora e apresentadora de TV Marcia Tiburi a Lívio Oliveira (11/07/2008):


L.O. O que diferencia, essencialmente, a filosofia da literatura?
M. T. São dois campos tão próximos e tão distantes que falar de uma diferença pode ser complicado. A diferença é que a filosofia não precisa ser escrita, que ela é evento, é acontecimento. É mais essencial que falemos de filosofia entre nós, do que escrevamos sobre ela. A literatura, por sua vez, é escritura, depende da escrita e se faz por meio dela. A rigor, um filósofo não precisaria escrever nada desde que ele possa realizar seu trabalho de pensamento na comunidade com a qual dialoga.

L.O. Por que a afirmação de que a filosofia acadêmica é hoje "um cadáver"?
M. T. Usei esta metáfora para causar atenção. Referia-me ao fato de que certas coisas morrem, neste sentido, que a história da filosofia que se tenta, no mundo acadêmico, fazer passar pela filosofia como um todo. Esta é uma idéia que perdeu seu sentido, pois não estamos mais no período da ditadura em que filósofos se escondiam do regime e preservavam a filosofia dizendo que estavam só estudando história do pensamento, colocando assim a filosofia num lugar inerte e não perigoso. Mas, se é um cadáver em nossas mãos, também devemos dissecá-lo para entender sua anatomia.

L.O. Você se considera uma filósofa "pop"? Isso lhe incomodaria ou lhe seria útil?
M. T. Realmente não penso nestes termos. Mas acho engraçado, enquanto nem me agrada nem me desagrada. Acho que para o papa ser pop foi bom. Talvez para mim, ou para quem gosta de filosofia, também seja. Que a filosofia como tal se torne pop, creio que é ótimo. Torna o gesto crítico do pensamento, que é a filosofia, algo mais democrático. Sendo uma professora de universidade como sou, espero que isto também seja divertido para meus alunos, quem partilha comigo a filosofia mais de perto.

L.O. Como você convive (e que disciplina você trabalha) com as múltiplas facetas do seu labor criativo e intelectual: a Filosofia, as letras, a televisão, além da mídia eletrônica e escrita em geral?
M. T. Não sei explicar isso. Eu sou uma pessoa hiperativa. Escrevo, leio, invento coisas o dia inteiro, o tempo todo. Talvez eu devesse responder a você como convivo com o não fazer nada. Mas como isto só me acontece raramente, fico sem entender como seria exatamente.

L.O. O silêncio é essencial?
M. T. Claro. É o que eu mais ouço.

L.O. A música ainda "toca"?
M. T. Raramente ouço alguma música diferente do som de meu marido ao violão. Quem vive perto de músicos acaba mais ouvindo ensaios e as musicas deles do que músicas em geral. Mas eu, em geral, não tenho tempo para ouvir música, assim como não tenho para ver Tv. O meu mundo é feito de livros.

L.O. O que vale mais: a ética ou a estética?
M. T. Toda ética tem uma estética, toda estética tem um ética.

L.O. Quais são suas principais referências intelectuais?
M. T. Não sei mais. Eu leio de tudo. Talvez o fato de que tenha estudado por dez anos a teoria da escola de Frankfurt, da teoria crítica, seja uma referência essencial. Mas gosto demais de Aristóteles, Nietzsche, Kant, Schopenhauer e de tudo o que se faz na filosofia contemporânea que é sempre o foco dos meus interesses.

L.O. Quais são suas preferências atuais de leitura? No Brasil, no mundo...
M. T. Leio coisas demais. Mas se pudesse passaria a vida lendo Melville, Gombrowicz, Lobo Antunes, Osman Lins, Borges, na literatura. Na filosofia leria de novo o que eu já li. Gosto muito hoje de um filósofo italiano chamado Giorgio Agamben.

L.O. Que valor possuem as "feiras" ou "festas" literárias, como a FLIP?
M. T. Acho todas uma maravilha. Divulgam livros e leitura. Tornam a literatura algo festivo e desejável.

L.O. É possível, afinal, filosofar em português?
M. T. Em qualquer língua! Onde há linguagem (mesmo a das artes), aliás, é possível realizar o trabalho do conceito. A língua, por sua vez, providencia a condição do diálogo.

L.O. O centro geográfico (ou econômico) pode definir qualidade de escrita e escritores?
M. T. Não creio. Literatura depende de desejo e disciplina. Se não temos mais grandes escritores é porque não aparecem pessoas que queiram e trabalhem para construir uma grande literatura. No Pará, por exemplo, em Belém, há um dos maiores escritores brasileiros, que é o Vicente Cecim. Ele não está no centro geográfico (aliás, onde fica?)

L.O. Qual é o lugar da literatura em sua vida?
M. T. A minha vida está situada na tensão entre a filosofia e a literatura.

L.O. A palavra move ou só comove?
M. T. Move, comove e é movida por nós. Fazemos com ela uma dupla banda.

L.O. Como definiria "consistência" no ato de criar, de escrever?
M. T. Escrever muito e sustentar o que se escreve.

L.O. O que lhe causa estranhamentos no Brasil atual? O que lhe incomoda?
M. T. A falta de atenção aos problemas e de respeito. A covardia dos poderosos também.

L.O. Como saber/conhecer sem nutrir culpa, num país como o nosso?
M. T. Culpado é quem não sabe/conhece.

L.O. Como a televisão poderia melhor atuar na formação cultural de um povo?
M. T. Tomem o poder. Façam a sua televisão. Não vejam o que não devem. Não vejam, se for preciso. Mas assumam o que fazem. Claro que projetos educacionais e culturais envolvendo a televisão são ótimos. Creio que eles existem cada vez mais até porque a televisão está cada vez mais ampla. A hegemonia tem seus dias contados.

L.O. Qual é o verdadeiro papel do escritor?
M. T. Verdadeiro? Escrever o que ele quiser e achar que deve.

L.O. O que o escritor busca "inscrever" no tempo?
M. T. Não faço idéia. Cada um deve ter uma vontade diferente.

L.O. Quais são as suas buscas, as suas metas essenciais na vida?
M. T. Viver em nome da minha liberdade possível, ter paz de espírito, fazer o que devo com as bandeiras que carrego.

L.O. De que trata o seu último livro, o "FILOSOFIA EM COMUM"? A Filosofia está ao alcance de todos?
M. T. Filosofia em Comum – Para Ler-junto é um livro que escrevi para promover a idéia da filosofia como conversação. É um livro vivo, que procura chamar o leitor a todo momento para o fato de que ele é intérprete do que ele lê. De que ele se torna, por isso, autor do que lê. É um livro “dispositivo”. Que serve para acionar o pensamento de cada um e levar ao diálogo com o outro. Tentei fazer isso chamando à leitura e à descoberta da voz de cada um. Por isso é feito para ler para um outro
 
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